quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Crítica: O Abutre - indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original


O Abutre é um dos filmes mais originais da temporada. Ele nos permite entrar na mente de um sádico sociopata pelo ponto de vista do próprio. O julgamento moral, neste caso, vem dos próprios acontecimentos que se seguirão. Num determinado momento, o "abutre" diz que não se importa pelas pessoas, porque simplesmente não gosta delas. Isso explica seu total fascínio em filmar ocorrências policiais sanguinolentas e não mostrar menor escrúpulo ao vender tais imagens sem se importar com a reação dos parentes e amigos das vítimas que verão o noticiário. Você torce para que o "abutre" se dê mal a cada nova cena, ou não, se você é daqueles que prefere continuar vendo as imagens geradas pela sua câmera. 



Na trama, Jake Gyllenhaal - em sua melhor interpretação na carreira - vive Louis Bloom, um ladrão barato de cobre e aço, que decide mudar de "ramo" quando se depara com uma equipe de filmagem registrando as vítimas de um acidente de automóvel. Ele descobre que essas imagens são feitas por freelancers que as vende para canais de TV que possuem programas de jornalismo sensacionalista. Péssimo para lidar com pessoas que não lhe interessa, ele opta por entrar no negócio sozinho e de forma bastante amadora, mas sua ousadia em captar as imagens logo o transformará no melhor "profissional" da área. 

Melhor do que a interpretação de Jake, somente o roteiro escrito pelo diretor Dan Gilroy - irmão do cineasta Tony e marido de Rene Russo que também está no elenco. Inclusive recebeu a única indicação ao Oscar do filme. Todos os diálogos proferidos por Louis foram perfeitamente escritos para que acreditemos que saia da cabeça de um sociopata e você sempre espera pelo seu próximo diálogo. Essa expectativa só aumenta quando ele passa a demonstrar sua falta escrupulidade nas negociações de venda de imagens e até mesmo manipulação das imagens que gera. Além disso, o timing do longa é perfeito. A crescente tensão aumenta gradativamente e na meia-hora final o ritmo já está alucinante. 

Outro acerto é se manter amoral do início ao fim e não derrapar sequer uma vez para que passemos a nos simpatizar por Louis. É um filme de cenas fortes, mas totalmente coeso, bem realizado e interpretado. 


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