quarta-feira, 30 de abril de 2014

Crítica para Robocop do brasileiro José Padilha


José Padilha se esforça, mas não chega a superar o original

A refilmagem de Robocop (88) não é um filme de ação. É um drama familiar e político com cenas de ação. Por mais que a tela esteja recheada de efeitos digitais e que tiros seja disparados em boa parte da projeção, o drama pessoal de Alex Murphy é muito mais explorado do que no filme original. Se isso é bom? Tudo depende.



O diretor brasileiro José Padilha é politizado. Ele gosta de mexer na ferida. Quando Hollywood lhe deu a chance de colocar todos seus soldados do BOPE dentro de um policial robô pra se fazer justiça, ele achou que tinha a faca nas mãos, mas se a sua ideia era colocá-la dos dentes e ir pra guerra, os executivos impuseram limites. 

Assim como Tropa de Elite não é um filme de ação, mas um thriller político com ação e certo drama pessoal, o roteiro (do desconhecido Joshua Zetumer) segue na mesma direção. Na trama, quando Alex Murphy começa a descobrir corrupção de amigos policiais dentro da polícia de Detroit, sofre um atentado que o deixa com 80% do corpo queimado e quase sem orgãos funcionais. Em trama paralela, uma corporação (a lendária Omnicorp) está louca pra vender um projeto milionário ao Governo Norte-Americano: tirar policias das ruas e colocar robôs. Por outro lado, um senador opositor está conseguindo vetar o projeto, pois alega que a máquina não pondera ao assassinar. Sendo assim, o executivo da empresa (Michael Keaton) tem a "brilhante" idéia de unir as duas coisas. E é assim que surge o Robocop com rosto, coração e cérebro de Alex Murphy (Joel Kinnaman de A Hora Mais Escura). 

A discussão entre o diretor brasileiro e os executivos da MGM para acertar o roteiro chegou a ser notícia nos websites de cinema. É claro que Padilha queria que Robocop entrasse atirando no Pentágono/Casa Branca mirando diretamente nos corruptos, mas não deixaram ir tão longe - na verdade ele sequer consegue chegar a Prefeitura de Detroit. A certa altura do filme temos o seguinte diálogo: "Você acha que demorará até quando para que ele chegue até nós?" ou "Políticos querem agradar a população tirando a violência das ruas, mas não querem serem investigados por corrupção". Sendo assim, toda a motivação política do diretor pára por aí. No quesito drama familiar, sobra pouco espaço para que realmente torcemos pela união eterna e feliz de um Robocop, mulher e filho - principalmente porque quase não tem momentos dessa família unida antes do atentado. E as cenas de ação? Elas esquentam mesmo somente  na segunda metade do longa, mas são bem executadas e barulhentas. 

Infelizmente, na minha opinião, TODAS as cenas com Samuel L. Jackson foram desnecessárias para a trama - ele vive um Datena norte-americano. André Matos fez algo parecido em Tropa de Elite 2, mas muito melhor com aquele humor safado e personagem melhor aproveitado com seu envolvimento explícito na corrupção. 


O elenco é bom. Michael Keaton, Samuel L. Jackson e, principalmente, Gary Oldman convencem sem esforço. Joel Kinnaman no papel título não compromete, mas também não arrebata. A grata "surpresa" é Jackie Earle Haley (Hora do Pesadelo) que rouba todas as suas cenas, mesmo com elenco mais estelar.

 Ao querer fazer o bolo caprichado com sua receita na cozinha dos outros, José Padilha acaba entregando algo para se saborear, mas nunca atinge a perfeição. Agrada um pouco em tudo o que propõe. Vale o programa, basta não criar muitas expectativas.


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