terça-feira, 16 de setembro de 2014

Crítica: O Doador de Memórias - boa premissa para resultado morno


Jeff Bridges em raro momento caricato em sua trajetória no cinema

Comentei nas redes sociais, pouco antes de ver O Doador de Memórias, que eu estava mais curioso para assisti-lo do que animado. Filmes de temática contundente como este, dificilmente conseguem passar todo o discurso em apenas hora e meia de programa. Tramas sobre governos que controlam a sociedade, mas que são enfrentados por jovens diferenciados, invadiram os cinemas nesta década. Temos o excelente Jogos Vorazes e o bem intencionado Divergente, e ambos tem ou terão continuações. Além disso, nem preciso dizer que os dois citados chegaram antes e isso é uma baita vantagem quando o mesmo tema é mastigado por grandes produções de cinema quase que simultaneamente.

Na trama, o que sobrou de um mundo em ruínas, foi reconstruído plasticamente no "topo do mundo" e é limitado. Além disso, é governado por anciões (liderados por Meryl Streep) que controlam as emoções das pessoas - elas sequer fazem sexo ou tocam pessoas que não são da mesma família. Vivem como robôs simpáticos, sem saber que o mundo já foi muito mais do que aquele - você viu isso em Mulheres Perfeitas, Show de Truman e A Vila. Todas as memórias do mundo passado estão guardadas numa casa isolada em milhares de livros e na mente de uma única pessoa (Jeff Bridges). É chegada a hora dessas memórias serem repassadas para um jovem chamado Jonas. O problema é que ele não aceita privar o mundo desses sentimentos e conhecimentos, e acaba tornando-se um rebelde a ser eliminado.

Os problemas de O Doador de Memórias são muitos. O roteiro dos estreantes Michael Mitnik e Robert B. Weide não tem vilões propriamente ditos - como culpar os que regem as leis se eles são ignorantes ao que levou a elas? Não tem romance - os personagens não tem sentimentos, lembra? Sem contar que a atuação do elenco fica presa própria armadilha que o roteiro propõe. Os únicos dois que podem expressar algo diferente de todo o resto acaba ficando para um surpreendente caricato Jeff Bridges e para um inexperiente Brenton Thwaites (Malévola). Sendo assim, é um desperdício de talento colocar Meryl Streep, Alexander Skarsgaard e Katie Holmes em personagens inexpressivos. 

Me incomodou muito também a opção do diretor em usar imagens tão batidas - flashs da vida real dos quatro cantos do mundo - na passagem de memórias para o receptor. Parece um videoclipe de temática social do Michael Jackson. Sem contar que essa hora e meia de duração não permite muitas explicações, o que exige certa credulidade por parte do espectador. 

Por outro lado, a produção é muito boa, o elenco dá credibilidade, a montagem tem começo, meio e fim, além do tema ser dos mais atuais. É pouco e o resultado é morno - não tem tanta ação quanto as produções citadas no começo deste texto. 

Em cartaz nos cinemas. Janeiro nas videolocadoras.

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