quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Crítica: Jersey Boys - diretor não se decide entre gêneros

O elenco dos palcos debuta no cinema

Jersey Boys é um musical da Broadway que conta a história do grupo musical que mais vendeu discos antes dos The Beatles: "The Four Seasons". O experiente diretor Clint Eastwood tenta manter a estrutura narrativa da obra nos palcos, separando discretamente (e confusamente) o filme em quatro partes, ou melhor, as quatro estações que dá nome ao grupo. Sua indecisão entre fazer uma cinebiografia séria ou musical bem humorado, acaba por não se conectar com o grande publico, mas agrada aquele que busca um filme bem produzido, com história bem narrada e trilha sonora que soa muito bem aos ouvidos.


A banda nasceu na cidade que dá nome ao título. Tommy DeVito era o líder de um grupo de amigos que cometia delitos para um chefão (interpretado por Christopher Walken) e tocava em bailes. Nesse grupo, Frankie Valli era o caçula e Nick Massi era quem reveza com Tommy idas e vindas na penitenciaria. Até o dia em que são apresentados por um jovem Joe Pesci (sim, o ator!) ao tecladista e compositor Bob Gaudio. Aos poucos a banda troca os delitos, pelo sucesso das paradas, colocando seus três primeiros singles na primeira colocação, isso ás vésperas do surgimento dos The Beatles. A partir daí, o filme focará os problemas de relacionamento entre os integrantes, a má gestão financeira e, principalmente, a vida pessoal do fiel Frankie Valli.

O roteiro escrito por Marshall Brickman (Noivo Neurótico, Noiva Nervosa e Manhattan) e Rick Elice pode ter funcionado nos palcos - o musical é vencedor de vários Tommys - mas peca de diversas formas ao ser transplantado para as telas. Falta foco. Poderia ter sido uma ótima cinebiografia da banda, partindo do ponto de vista do vocalista Frankie Valli, pois ao analisar todo o longa, percebemos que dá-se a entender isso, principalmente na "estação" final, mas durante o filme temos momentos em que a história é contada através de outros pontos de vistas. É desigual. A questão das estações também não ajuda, pois como tratar as prisões dos integrantes no começo do filme com tanto sarcasmo e querer que levemos a sério os problemas de Valli com sua família mais a frente? Isso prejudica a conexão da obra com o publico, que respondeu negativamente nas bilheterias. 

Por outro lado, é uma obra muito bem produzida. Cenários e figurinos estão impecáveis. E até mesmo o jogo de câmeras com os personagens falando conosco, ao mesmo tempo em que interage com a ação, é bem vinda quase sempre. Algumas tomadas são fabulosas, como pro exemplo aquela em que Valli e Gaudio chegam no edifício de uma gravadora. A câmera sobe os andares por fora do prédio, mostrando vários cantores mostrando suas demos para produtores a cada andar. 

Já o elenco gera controvérsias. A escolha de Clint Eastwood em escalar os mesmos atores do musical, ajuda na "cantoria" (Valli tem um falsete praticamente inimitável!), mas prejudica na dramatização. Principalmente no cinema, quando o close não é um dos melhores amigos de quem não está acostumado a interpretar para a câmera. Isso funcionou em Mamma Mia, mas naquela obra as atrizes tinham Meryl Streep como "ponto de referência" e as músicas eram "dançadas". Em Jersey Boys, a parte musical se restringe as apresentações do grupo e cenas em estúdio de gravação, com exceção da cena final. 

Entre prós e contras, percebe-se que no futuro, ao analisar a obra de Clint Eastwood como realizador, este seja um raro caso de obra que divide opiniões. Para efeito de comparação, The Wonders - O Sonho Não Acabou (96) é mais agradável de se ver. Por outro lado, cumpre sua função em mostrar a história desse fabuloso grupo dos anos 60 e pode entrar na coleção de qualquer um que goste de boas cinebiografias musicais. Como não se emocionar com a cena de "Can't Take My Eyes Of You"? 

20 de Novembro nas videolocadoras.


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