O último trabalho de Phillip Seymour Hoffman como protagonista |
Logo na primeira cena você confere uma tomada com águas calmas que logo se agitam com a chegada de um homem ao porto de Hamburgo, obviamente foragido. Expondo de cara, aos mais atentos, que as coisas podem estar calmas, mas nas horas seguintes não estarão. "O Homem Mais Procurado" é carregado de metáforas como essa, do começo ao fim. Abre mão de ação e tiroteios por uma angustiante espionagem que intriga a cada cena e sem pressa, casando perfeitamente com mais uma grande (e sufocante) interpretação do já saudoso Phillip Seymour Hoffman.
Na trama, a cidade de Hamburgo continua vivendo a sombra da paranoia do "11 de Setembro", mantendo uma equipe secreta de espionagem para rastrear qualquer sinal islâmico na cidade. Quando um imigrante checheno chega de forma ilegal, esta equipe liderada por Günther (Hoffman), passa a seguir seus passos. Quando descobrem que o foragido tem uma enorme herança para receber, surge uma oportunidade imperdível para que Gunther consiga sua primeira isca na intenção de pegar um homem que ele suspeita ter uma empresa de doações usada como fachada para financiar o terrorismo. Começa aí um jogo auspicioso para que o plano seja bem sucedido.
Lembrando bastante O Espião Que Sabia Demais (11), também baseado em obra literária de John Le Carré, O Homem Mais Procurado acontece num ambiente pesado. A equipe de Gunther sequer existe oficialmente. Não há glamour. Eles mal dormem. Vivem em lugares pequenos e escuros, rodeados de whisky barato e cigarro. Passam o tempo todo olhando fotos e analisando pistas, pensando em qual informante precisarão ou qual pessoa terão que se aproximar para se tornar digno de confiança e seguir com o plano. Neste caso, um banqueiro de rabo preso (Willem Dafoe) e uma advogada idealista (Rachel McAdams), além de alguns outros menos atuantes, mas não menos importantes no plano.
Além da obra de Carré, temos que dar méritos a fotografia de tons cinzas que se encaixa perfeitamente ao semblante sério de todos os personagens. O elenco está muito bem, apesar do desperdício do ótimo Daniel Brülh (Niki Lauda de Rush) num personagem apagado. Phillip Seymour Hoffman, como de habitual, mergulha na natureza de seu papel, e nos entrega um Gunther amargurado, calmo, de voz baixa e cansada, cuja arma é passar confiança através de palavras e contato físico. Excelente trabalho do diretor Anton Corbjin (Control, Um Homem Misterioso), que abre mão do óbvio e coloca o espectador no papel de investigador, deixando pistas para que possamos participar e não só assistir. Ele jamais subestima sua inteligência.
O Homem Mais Procurado é um obra séria e adulta, que exige paciência e muita observação. Se este estilo lhe agrada, não perca este, que além de ser um dos melhores filmes do ano, também retrata o último trabalho de Phillip Seymour Hoffman como protagonista. Uma perda muito precoce para o cinema.
Fevereiro nas Videolocadoras.
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