Bruce Dern em seu melhor papel na carreira |
Eu acho assustador ver um filme sobre a velhice. Fico imaginando: "Eu seria esse tipo de idoso?". E por mais que encontremos por ai velhinhos alegres perto da reta final, não sabemos ao certo o quanto daquilo é real. Geralmente vejo o fim da vida como algo extremamente triste. Ainda que me considere uma pessoa otimista. Nos filmes, quase sempre eles carregam toneladas de arrependimentos por coisas feitas ou que deixaram de ser feitas. Mal conseguem andar, ver, ouvir... estão sempre doentes, com dores... Já não dizem mais coisas com tanta sobriedade, isso se ele deu a sorte de ainda manter alguma boa saúde mental. Por mais que um filme seja ficção, sabemos que há um estudo atento para o desenvolvimento daquele personagem. Talvez podemos dizer que chegamos mais perto da mente de um idoso vendo um filme do que conversando com eles. Pelo menos é a impressão que tenho. E provavelmente eu esteja errado, o que me assusta ainda mais.
Na trama, o velho Woody (Bruce Dern) recebeu uma carta dizendo que ele ganhou US$ 1 milhão. Bastaria que ele levasse-a até um escritório que estava há mais de mil quilômetros de distância para receber a bolada. O que na verdade é uma versão em papel daqueles spams que você recebe todo dia. Só que ele não percebe. Pior, ele não se convence mesmo com sua esposa impaciente (June Squibb) e seus dois filhos lhe dizendo isso. Ele está disposto a ir a pé. E tenta. Diversas vezes. Seu filho caçula David (Will Forte), de tanto ter que abandonar o emprego de vendedor de stereos no meio do dia para resgatar o pai na estrada, um dia resolve levar o velho lá para que ele veja com seus próprios e sofridos olhos que tudo não passa de uma enganação.
O diretor Alexander Payne dá o tom do filme na própria fotografia em preto e branco. E não esconde o jogo, dando close dos momentos que ele quer você não escape daquela cena chave. As longas pausas dos personagens entre os diálogos são perfeitas e dão a exata sensação do que seria estar naqueles ambientes. Ele arranca atuações brilhantes de Dern e Squibb - merecidamente indicados ao Oscar.
"Nebraska" não é um filme sobre a velhice. É um olhar atento sobre ela, a partir da ótica de um homem de meia idade cuja vida não sai do lugar. Numa das melhores cenas, David encara o túmulo de um tio que tinha seu nome e que morreu aos 2 anos de idade. Talvez seja neste momento que ele passa a perceber a estagnação dos seus dias. Estaria ele já morto? Ao conhecer mais seu pai nesta jornada a caminho de Nebraska é que ele passa a aprender sobre arrependimento, culpa, comprometimento e sobre si mesmo.
Analisando nossos próprios pais, não estaríamos tendo uma chance única de aprender a, talvez, não cometer os mesmos erros ou dobrar os acertos? Seria "Nebraska" um filme sobre como envelhecer melhor do que eles? Afinal, não seria essa a tal evolução?
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