segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Minha namorada é um software...

Theodore diverte-se "com" Samantha

O que é exatamente o amor? É quantidade? É tempo e duração? É físico? É psicológico? Quem somos nós para respondermos essa questão? No máximo conseguimos acreditar no que nós mesmos estamos sentindo. Que estamos amando uma pessoa por um determinado tempo, até que algum acontecimento faça com que mudemos de opinião. Ou não. Responder essa questão em nome de outro alguém é surreal. A maioria responde que Amor tem uma definição para cada pessoa ou que Amor não se define, se sente. Se esta última hipótese é levada em consideração por tantos e tantos seres humanos, estes mesmos não podem julgar esse sentimento. Só podemos sentir amor por pessoas do sexo oposto? Não podemos sentir amor por pessoas do mesmo sexo? E por outros animais? E pessoas da nossa família? E por programas de computador? Se amor é algo que se sente e não se define, a ideia colocada pelo diretor Spike Jonze no excelente "Ela" é totalmente plausível. Podemos nos apaixonar por uma voz de computador? Assim como muitos relacionamentos dos últimos anos nasceram em chats de relacionamento?

 Na abertura de "Ela" ouvimos a voz de Joaquin Phoenix fazendo uma declaração de amor que julgamos precocemente ser para uma mulher que ele ama. Logo depois percebemos que é para outro homem, que talvez ele ame. Quando na verdade, ele está apenas criando uma carta de amor para o amado de uma mulher que o contratou para tal. "Escrever" cartas de amor narrando-as (num futuro próximo onde isso é perfeitamente possível) é sua profissão. Num mundo onde pessoas contratam outras para expressar seus sentimentos e conseguem aprovação da outra parte pra isso, não seria muito diferente de você se apaixonar por alguém que lhe proferiu sentimentos e que sequer conhece? Seriam eles verdadeiros? Você acreditaria no amor de alguém que contrata outro para expressar seus sentimentos? Se você sabe que outra pessoa pode se apaixonar por algo que você escreve, mesmo que ela nem tenha ideia de quem você seja, não estaria você mais suscetível a acreditar que o amor pode vir de alguém que você nunca viu? Que possa vir de alguém que sequer seja uma pessoa? Confuso? Só se você divagar demais pelo assunto...

Theodore (Phoenix) está num momento solitário. Foi deixado pela mulher que ainda ama. Um ano após a separação ainda não conseguiu assinar os papéis. Com medo de se envolver com outras pessoas, mal consegue marcar encontros. Vai do trabalho pra casa, tem algumas aventuras sexuais virtuais, brinca com seu videogame onde o personagem solitário está numa busca sem fim e, finalmente, dorme. Até o dia em que conhece a mais inovadora tecnologia em companhia virtual. Um programa que passa a se desenvolver a partir do momento em interage com ele. Samantha (Scarlett Johansson) - nome que ela mesmo se deu - lê seus e-mails, ajuda-o em dúvidas sobre comportamento, lhe arruma encontros, faz companhia nas noites solitárias, se apaixona por ele e vice-versa. Seria possível? 




Seria o diretor Spike Jonze tão bom manipulador que nos faria acreditar nesse amor? Você não chora vendo um filme sobre um personagem que morre de câncer? Não ri por um piada que na verdade foi encenada? Não sente medo por um exorcismo que não aconteceu?  Não ficou na adrenalina por uma cena de ação filmada em "fundo verde"? Então quem somos nós para julgarmos o sentimento de Theodore por Samantha - mesmo que ele estivesse acontecendo fora da tela do cinema. E o amor sentido por Samantha? É apenas programação? 

"Ela" apresenta o roteiro mais intrigante do ano. A trama que mais lhe coloca pulgas atrás das orelhas. É o filme do ano, caso você seja daquelas pessoas que são levadas pelos emoções transpassadas pelas telas, que fará você ver, rever e talvez "rever novamente".

Você acredita em cada cena de Joaquim Phoenix. Você acredita na voz de Samantha. E jamais esquecerá de "Ela". E sentirá medo que no futuro próximo os seres humanos gostem mais daquilo que é moldado para agradá-los do que de outros seres humanos - com seus devidos defeitos e vontades próprias.


"Ela" estréia este final de semana nos cinemas e chegará em Junho nas videolocadoras.



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